segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

CIDADE SEM HISTÓRIA, CIDADE SEM MEMÓRIA
(Joésio Menezes)


Já se tornou comum não mais buscarmos informações históricas ou culturais nos interiores de bibliotecas e museus, os quais tornaram-se “obsoletos” para grande parte das pessoas, inclusive para aquelas cuja responsabilidade de preservar a história e a cultura de um povo lhes foi confiada, ou seja, as autoridades (in) competentes.
Mas para quê bibliotecas e museus se tudo que queremos podemos encontrar na INTERNET, não é verdade?
Ledo engano!...
Se o intuito é somente fazer pesquisas, a internet é o meio mais prático, fácil e rápido de consegui-las. Mas... quem disse que a praticidade, a facilidade e a rapidez são sinônimos de enriquecimento intelectual ou cultural?
É necessário entrarmos numa biblioteca e sentirmos o “cheiro de mofo” que há em suas estantes; é interessante conhecermos a variedade de livros e autores que há em suas prateleiras; é emocionante tê-los nas mãos e abri-los ante os nossos olhos; é inestimável o prazer de viajar por entre os versos de cada poesia, pelas entrelinhas de cada conto, pelos capítulos de cada romance; é fascinante descobrirmos o passado de lutas e conquistas de um povo, de uma nação, por meio das páginas de um bom livro de História. Enfim, não há avanço tecnológico que supra o deleite de se ler um livro, seja lá qual for o gênero.
Insubstituível, também, é o enriquecimento histórico-cultural que adquirimos quando visitamos um museu. Em seu interior, fazemos uma viagem ao passado; vemos passar diante dos nossos olhos séculos de história; podemos acompanhar bem de perto a história da evolução de um povo; do crescimento de um país, do nascimento de uma cidade. Ali, podemos sentir, próximas a nós, as decepções e emoções do artista que esculpiu determinada escultura ou pintou alguma tela.
Mas nem sempre a evasão das bibliotecas e museus é culpa unicamente da INTERNET. Na maioria dos casos, os órgãos encarregados de preservar o patrimônio histórico e cultural de uma cidade ou de um país são os grandes responsáveis por essa evasão quando deixam de cumprir o papel que lhes foi atribuído: o de construir, preservar e manter em funcionamento tais estabelecimentos.
E já que o tema em discussão é a construção, preservação e funcionamento de bibliotecas e museus, não poderíamos deixar de mencionar o evidente abandono do Museu Histórico e Cultural de Planaltina-DF.
Anos atrás, o Museu era um atrativo a mais para as escolas de Planaltina cujos professores tinham o maior prazer de levar seus alunos para mostrar-lhes mais de perto um pouco da história da cidade, e os alunos por sua vez ficavam deslumbrados por poderem ver e tocar objetos do final do século XIX. Hoje, onde deveriam estar expostos documentos, objetos e utensílios domésticos que contam a história da nossa cidade, encontram-se amontoados traças, cupins, folhas secas, teias de aranha e muita poeira. O telhado está prestes a desabar; o assoalho, perto de ruir pela ação dos cupins; as paredes correm sério risco de caírem (inclusive, a parede frontal do prédio há mais de um ano está sendo sustentada por uma folha de madeirite). Uma verdadeira mostra do descaso e do desrespeito à história de Planaltina e à tradição genealógica do seu povo.
Com relação às bibliotecas, só o que podemos falar é que a única que há na cidade não consegue atender às necessidades dos estudantes e/ou candidatos a vestibulares e concursos públicos que a procuram, tendo em vista que é muito pequena e abafada, e o seu acervo deixa muito a desejar. Daí a opção de muitos pela internet, no entanto, há de se ressaltar que nem todos têm computador em casa, o que torna difícil a preparação dessas pessoas que sonham ingressar numa universidade pública ou no mercado formal de trabalho.
Esperamos, num futuro bem próximo, poder ver resgatadas a história e a cultura da nossa cidade, pois, parafraseando o escritor maranhense Coelho Neto, “uma cidade sem história é uma cidade sem memória”. Ansiamo-nos por ver nossos jovens, de todas as classes (religiosas, raciais e sociais), melhor preparados, não só para o mercado de trabalho mas também para a vida.

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