quinta-feira, 19 de junho de 2008


PLANALTINA – CIDADE DAS ÁGUAS EMENDADAS, ONTEM E HOJE
(Prof. Xiko Mendes)

A colonização portuguesa do território planaltinense iniciou-se entre as décadas de 1780/90 como conseqüência da crise da mineração em Goiás cujo ouro foi descoberto pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva em 1725. Nos anos 1730 outras minas no atual Estado de Goiás foram descobertas aqui bem próximas de Planaltina: ao norte, as minas de Cavalcanti e Niquelândia; ao sul, as minas de Santa Luzia (Luziânia). O Planalto Central, na área onde se localiza Planaltina, a terra era povoada pelos índios Crixás.

I – Período Pré-distrital: Povoado (Século XVIII – 1859)

Diz a lenda que o primeiro homem branco a fixar residência na região de Planaltina foi um ferreiro cuja profissão – Mestre d’Armas – deu nome ao córrego e ao Povoado. Desiludido com a mineração, os garimpeiros procuram novas áreas ou novas atividades econômicas. Planaltina surgiu com o desenvolvimento da Pecuária. Como aqui era ponto de passagem de tropeiros e viajantes que vinham do Nordeste seguindo a estrada real “Picada da Bahia” até Mato Grosso e Goiás Velho, a casa do Mestre d’Armas servia de “pouso”. Com o tempo, chegou novos habitantes. Entre eles, José Gomes Rabelo, que tornou-se proprietário da Fazenda de mesmo nome.
Entre 1810/11 a população do povoado de Mestre d’Armas foi vítima de uma Peste onde mais da metade de seus habitantes morreu. Movidos por um profundo espírito de religiosidade católica, o terreno onde hoje está o nosso Centro Histórico – Igrejinha, Museu... – foi doado a São Sebastião – que tornou-se Padroeiro da localidade como promessa de que a epidemia não voltasse a matá-los. Era 20/1/1811 – dia de devoção ao Santo, que virou data comemorativa do lugarejo. Em 1834 foi criado o 3º Distrito de Luziânia, denominado de São Sebastião de Mestre d’Armas. Devido a conflitos políticos em decorrência do fato de que a população queria pertencer a Formosa, o distrito foi anulado no ano seguinte. Em 1858 o terreno do povoado é doado ao Governo de Goiás pelos herdeiros da Fazenda Mestre d’Armas tendo como Procurador Sebastião Carlos Alarcão.

II – Período Distrital: Vila (1859 – 1892)

No dia 19 de agosto de 1859 por meio da Lei Provincial nº: 03 é criado em definitivo o Distrito de São Sebastião de Mestre d’Armas já incorporado ao município de Formosa – GO. Em 2/4/1880 com a Lei Prov. nº: 615 é criada a Paróquia de São Sebastião sediada na Igrejinha que continua de pé. A Lei Prov. Nº: 671 de 21/7/1882 determinou a instalação da primeira Escola só para alunos do sexo masculino. Foi chamada de Grupo Escolar São Sebastião, depois Escola Paroquial, hoje Centro de Ensino Fundamental nº2. São iniciadas as construções dos Prédios públicos que sediariam o novo Município.

III – Período Municipal: Cidade goiana (1892 – 1960)

Por meio do Decreto nº: 52 de 19/3/1891 o Distrito é transformado no município de Mestre d’Armas – GO cuja instalação oficial se deu no dia 28/2/1892. Em 2/10/1910 passou a denominar-se Altamir; e em 14/7/1917 foi renomeado em definitivo chamando-se Planaltina – GO mediante proposta do Deputado Estadual oriundo de Formosa, José Teodolino da Rocha.
Nesta mesma época o município recém-criado recebe os cientistas da Comissão Exploradora do Planalto Central – Missão Cruls – que elabora um Relatório publicado em 1894 demarcando o local para construir a futura Capital do Brasil entre Planaltina, Luziânia e Formosa conforme determinava a Constituição Federal de 1891. A área total era de 14.400 Km2 e incluía Planaltina. A Missão foi guiada na região pelo planaltinense Viriato de Castro.
Em 7/9/1922 durante o Centenário da Independência do Brasil o Presidente da República Epitácio Pessoa vem até Planaltina e inaugura o monumento Pedra Fundamental da Construção de Brasília no Morro do Centenário, fruto de um projeto dos deputados Americano do Brasil e Rodrigues Machado. Com isto, a Prefeitura instala no Rio de Janeiro uma Sessão de Propaganda para incentivar pessoas do país inteiro a vir morar em Planaltina. Ao longo dos anos 1920 surgem vários projetos habitacionais que nunca saíram do papel como o Planaltópolis feito por pessoas que sonhavam com Brasília sendo construída em solo planaltinense.
Entre as décadas de 1920/30 Planaltina, influenciada pelo sonho de que Brasília seria aqui construída, desenvolveu-se de forma significativa. Ganhou rede elétrica, telefone, telégrafo, estrada de rodagem até Ipameri-GO, o primeiro automóvel, indústria de curtume, o primeiro jornal, o comércio cresceu passando a importar mercadorias de SP e de Uberaba-MG. Em 1947 foi instalada a Comarca e os problemas com a Justiça passaram a ser resolvidos no próprio município. Em 1951 foi criada a Escola Normal Olívia Campos Guimarães – para formar professoras normalistas.
Em 1948 é publicado o Relatório Poli Coelho, documento elaborado pela Comissão chefiada pelo General Djalma P. Coelho que fez novos estudos sobre a Mudança da Capital indicando cinco opções chamadas de “sítios”. Nova Comissão é criada em 1953 sob a Coordenação dos generais Caiado de Castro e José Pessoa Cavalcanti, sucessivamente. E em 1956 é publicado o Relatório Belcher feito pela empresa norte-americana Donald J. Belcher And Associates Incorporated, contratada pelo Governo Federal, que confirma em definitivo a escolha do Sítio Castanho (futuro Plano Piloto) como o local da Construção de Brasília. Planaltina deixa de ser opção para sede da Capital Federal. Todas estas comissões hospedaram-se em Planaltina na casa onde hoje é o Museu da Cidade.
Em 2/1/1956 por meio da Lei Municipal nº: 84, o Prefeito Veluziano Antônio da Silva – Seu Luzas – assina a escritura de transferência para o Governo Federal das propriedades incluídas na área que hoje é o Plano Piloto.
Em 1959 durante o Centenário da Emancipação Política de Planaltina, nossa cidade recebeu a visita do Presidente Juscelino Kubitschek. O Prefeito Veluziano A.da Silva, e seu sucessor na Prefeitura, Osvaldo Vaz, conduzem as negociações para a incorporação de nosso território ao futuro Distrito Federal.

IV – Período Brasiliense: Administração Regional(1960 – hoje)

Com a Inauguração de Brasília em 21/4/1960, a Prefeitura e a Câmara de Vereadores são transferidas para o Povoado de São Gabriel. De lá para a Fazenda Brasília onde surgiria Planaltina de Goiás, proprietária do título de Município que Planaltina-DF perdeu por se integrar ao território brasiliense, definitivamente, a partir de 1969.
Planaltina até 1960 tinha cerca de 2000 habitantes e constituía-se apenas do Setor Tradicional e de uma periferia com casas de palha construídas em torno da Igreja São Vicente de Paula. A atual Rua Piauí onde passam os ônibus separava o Centro desta periferia que depois seria chamada Vila Vicentina. Em 1969 surge o Vale do Amanhecer numa gleba da Fazenda Mestre d’Armas, fundado pela médium Neiva Chaves Zelaya. Em 1971 surge a Vila Buritis (Setor Residencial Leste), que foi planejado pelo arquiteto Dr. Paulo Magalhães. Seu projeto urbanístico foi alterado entre 1977/1979 para inserir as duas ruas comerciais hoje existentes no SRL. Os primeiros moradores do SRL vieram da Vila Tenório, invasão de barraqueiros no Núcleo Bandeirante, cidade construída para abrigar temporariamente os candangos construtores de Brasília. O pessoal do Setor Tradicional era contra. Por isto foi previsto um cordão de isolamento que é o setor de repartições públicas onde estão hoje o Hospital, a Rodoviária, o Estádio Adonir Guimarães, etc.
Com a Nova República em 1985, o DF passa a ser governado por José Aparecido de Oliveira, que faz “vista grossa” a novas invasões de espaços na periferia urbana. Em 1987 assume o Governo do DF o Sr. Joaquim D. Roriz, que também não fiscaliza o surgimento de loteamentos irregulares. Nessa década é que se consolida a ocupação ou Expansão do SRL (Buritis II, III...), surge o povoamento dos setores habitacionais Arapoangas, Mestre d’Armas (Estâncias I a V, Estância Planaltina, etc) e Aprodarmas, que se expandem ao longo da década de 1990. O Jardim Roriz inicia-se também como assentamento populacional organizado pelo próprio GDF. Planaltina hoje tem mais de 180 mil habitantes. Em 40 anos teve um crescimento de quase 9.000 %.
Planaltina ou RA-6 (região administrativa) responde por 65% da produção agrícola e por 85% das terras agricultáveis no DF. Sua Cultura bicentenária é visível a olho nu nos casarios antigos do Setor Tradicional, na Pedra Fundamental, no Morro da Capelinha cujas encenações (Via Sacra) começaram entre 1973/4 e também no Vale do Amanhecer cujo misticismo encanta turistas do mundo todo, além da Festa do Divino Espírito Santo. Há outras atrações como a Estação de Águas Emendadas assim chamada porque lá há o encontro de nascentes que dão origem às Bacias Amazônica, Platina e Sanfranciscana.
Planaltina caminha com um pé no passado, outro no presente e o cérebro? O cérebro ainda não pensa o futuro, pois há infinitos problemas a serem resolvidos como: Regularização fundiária dos mais de 30 condomínios irregulares; Urbanização das áreas periféricas onde falta asfalto, rede de esgoto, energia e água potável; Instalação de serviços públicos (postos de saúde e de polícia, escolas, etc), entre tantos outros que continuam sem solução a curto prazo.


Para saber mais, leiam os livros abaixo:

Mendes, Xiko (Org.); Palavras, Sentimento e Paz, 3ª Antologia da Academia Planaltinense de Letras, Brasília, 2002.
Castro, Mário; A Realidade Pioneira (História de Planaltina), Brasília, Editora Thesaurus, 1986.
Mendes, Xiko (Coord.); Projeto Aluno Escritor/Planaltina, Brasília, Edição da Asefe, 1996.
Meireles, Dilermando; Pimentel, Antônio; História do Planalto, edição da Academia de Letras e Artes do Planalto, Luziânia-GO, 1996.

(Fonte: Academia Planaltinense de Letras)

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