terça-feira, 19 de agosto de 2008


UMA OUTRA HISTÓRIA
(Depoimento autorizado por seu José de Faria, em 17 de outubro de 2006, e registrado por Ana Cristina, aluna de Pedagogia da UnB)
Foto: Moisés Youssef

Planaltina, menina brejeira que a todos encantam com a sua sutileza e o seu jeito acolhedor, fazendo de uma gente castigada cidadãos conscientes e apaixonados por ela.
Seu José Faria, 80 anos de idade e morador da cidade há quarenta, nos relata emocionado porque optou vir morar aqui em Planaltina, e que a sua finalidade era oferecer uma melhor educação para os seus filhos, dos quais 02 são formados.
Recém chegado da guerra, em maio de 1945, a primeira viagem que fez foi de Unaí para Planaltina, desbravando o cerrado brasileiro em cima de um cavalo por vinte dias até chegar aqui no coração do Brasil.
Por todos os lados em que olhasse só avistava mato. As noites sempre muito escuras, porém, chacoalhadas de estrelas, quebrando, em breve instantes, a frieza do lugar.
Vidinha boa, uma cidade miudinha, tranqüila e bem familiar a todos os moradores.
Na cidade havia barracos de palhas cobertas por folhas de bambu e também casas de adobe. O hospital mais próximo ficava em Formosa- GO, mas já existia a SANDU e a saúde era melhor.
Só havia distribuição de energia elétrica em Planaltina velha (lugar sede do arraial, do qual originou a cidade), mas a água era fornecida pela rede pública. Existia também a igreja São Sebastião e a igreja da Vila Vicentina, e nos dias de Domingo a população se reunia para assistir às missas e participar das quermesses. As mulheres, como era costume da época, trajavam longos vestidos ou saias compridas e os homens, ternos escuros, chapéus e sapatos sempre encerados.
Foi aqui que, pela primeira vez, conheceu um cabeludo, coisa esquisita!
Havia apenas seis carros particulares pertencentes à família dos Guimarães(a família mais tradicional da região) e o transporte público vinha de Formosa GO, o qual fazia parada obrigatória para ver se o Doutor Hozana Monteiro Guimarães estava precisando de alguma coisa.
Os lotes eram baratinhos e desvalorizados e ninguém acreditava que Planaltina um dia teria tamanha proporção.
A vantagem de se morar aqui é que podiam dormir de portas abertas, mas foi um período marcado por inúmeras dificuldades.
Em 1966, a educação ia até a 8º série, e somente havia o Centrão (onde funcionava a escola Normal), o Centrinho (que oferecia o ensino ginasial), a Escola Classe 02 (ensino primário) e a Escola Paroquial, que não se sabe com precisão se era dirigida por padres ou pela Fundação Educacional, hoje Secretária de Estado de Educação.
Seu José, era semi analfabeto, aprendeu a ler em revistas em quadrinhos e revistinhas de bangue- bangue e sua mulher alfabetizou-se no MOBRAL( Movimento Brasileiro de Alfabetização). A filha dele também participou do MOBRAL como estagiária e, depois de formada, como professora.
Hoje, o seu José reside no setor sul de Planaltina e zela de uma pequena fração de terra no Bairro de Fátima, em uma área semi rural da cidade.
Com seu jeitinho maroto, sorriso largo e de chapéu de palha, é um doce exemplo de que nesta cidade o rústico e o contemporâneo pode viver lado a lado, de mãos dadas, em busca da modernidade, mas preservando as raízes que fazem esta população ser assim tão singular!

(Fonte:www.forumeja.org.br/df)

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